"O manual do cartógrafo é muito simples. O que um cartógrafo leva no bolso: um critério, um princípio, uma regra e um breve roteiro de preocupações..."(Suley Rolnik, 2008)
Hoje eu acordei pensando que oque me mobiliza é o fato de usar o espaço público para fazer hortas. Talvez por um certo sentido de transgressão ou talvez de uma vontade política de dizer alguma coisa. Essa coisa que quero dizer pode ser algo simples, desde que faça sentido para alguém que está ao meu lado, e esse alguém, ao lado de outro alguém. Colocar a horta do lado de fora de casa é desarticular uma fronteira entre o público e o privado. Uma fronteira que eu nem sei bem se existe, mas que define o desenho do mundo urbano em que vivemos. Pode ser também, que a horta articule territórios em desuso toda vez que ali nasce alguma coisa para comer, cheirar, tomar. Essa é a diferença da horta-aberta, ela não é ninguém e é de todo mundo, assim como os espaços que o homem, ora conquista, ora é conquistado. Quem cuida de uma horta em espaço público ? Foi tentando responder a esta pergunta que resgatei a dimensão territorial daqueles que vivem sem teto e que usam este espaço dito público como seu de fato. Só é público para nós por que voltamos pra casa e temos um lugar privado. para os que vivem na rua, o espaço é sempre deles. Nas diferentes arestas que espaço e lugar propõem, espaço é meio de criação e lugar é para onde se vai. Neste espaço é que quero atuar, e nele não há mapas, mas há algo chamado cartografia sentimental que vai mexer com as pessoas deste espaço. Não crio mapas, crio vínculos. A horta é um dispositivo que nos faz encontrar nesta zona de fronteira entre o público e o privado, um lugar de desejo comum, o desejo de arte e de vida.
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