Percebo que as hortas são espaços de criação coletiva que proporcionam um engajamento a um processo que repete ou se assemelha ao processo artístico, no sentido em que é possível fazer gerar novas possibilidades de olhar sobre uma realidade, ou até mesmo a criação de novas realidades. Diferentes experiências na minha trajetória artística me fazem arriscar que processos coletivos em espaços abertos, como a horta comunitária, proporcionam o desencadeamento de ações que fortalecem a comunidade, colaborando com questões locais que vão tomando forma ao longo do processo.
A horta é um dispositivo relacional que promove um projeto de arte coletiva, formado através das relações de vínculo e de colaboração na comunidade, mas que também é desenvolvido aleatoriamente pelos membros da comunidade. Dispositivo relacional seria aquilo que, partindo de uma definição de Deleuze (1925-95), comporta um sistema de linhas de força, interagindo entre si. Na tensão entre estas linhas existem certas fissuras, ou fendas, que permitem novas situações, que “nos desprendem de nossas continuidades, dissipando essa identidade temporal em que gostamos de nos olhar para conjurar as rupturas da história [...] fazendo com que o outro e o externo se manifestem com evidência”*
* DELEUZE, Gilles. ¿Que és un dispositivo? In: Michel Foucault, filósofo. Barcelona: Gedisa, 1990, pp. 155-161. Tradução de Wanderson Flor do Nascimento. Link: http://escolanomade.org/textos/deleuze-gilles/o-que-e-um-dispositivo
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